ARTIGOS

O Poder do Nome

Cada vez mais escolhido apenas pela sonoridade, por vinculações com antepassados ou com personagens históricos, todo nome é tão poderoso e revelador quanto o era nos tempos em que sua escolha era muito mais cuidadosamente pensada.

Entre os indígenas das três Américas, entre os celtas, os egípcios antigos, os chineses e os polinésios, enfim, nos cinco continentes habitados, os nomes eram escolhidos ou formados para representar exatamente quem fosse ser nomeado. E enquanto o ocidental profano se ri desta prática, se surpreende ao conhecer o significado de seu próprio nome em listas que são apresentadas, ocasionalmente, em revistas de curiosidades, na Internet ou em forros de bandeja do McDonalds. Lembra-me alguém que descobriu, com um chinês, que o ideograma que tinha tatuado em sua pele não significava nada daquilo que o tatuador lhe dissera...

Vincular um nome a seu significado etimológico é um passo. Taliesin foi assim nomeado por ter uma face brilhante, e tal brilho e beleza puderam tomar muitos sentidos ao longo de sua vida; Amenhotep IV, cujo nome significava a paz de Amon, alterou seu nome para Akhenaton (aquele que é agradável a Aton) quando optou pela monolatria ao Deus Aton. Imaginem o ridículo se, após renunciar ao culto a Amon, continuasse sendo chamado de Akhenaton... Mas o exemplo mais marcante do poder do nome para os egípcios é dado no relato de que Ísis teria atiçado uma
cobra venenosa sobre Rá para que pudesse conhecer o nome secreto de Rá em troca da cura para o envenenamento. Uma vez conhecendo seu nome, pôde reinar soberana.
Por óbvio, o significado do nome secreto de Rá não deveria se limitar à etimologia. O nome secreto do Deus deveria trazer informações precisas sobre sua natureza e seus pontos fracos. E isto nos remete diretamente à numerologia. Para quem domina a numerologia, conhecer o nome de alguém é ter poder sobre ele. Mas o leitor dirá: como pode o nome influir sobre mim ou, num outro sentido, como poderia meu nome representar a alma que habita meu corpo se meus pais nada sabem de numerologia e simplesmente escolheram um nome que lhes pareceu bonitinho???

Ora, ora, e quem disse que seus pais estão apartados do Todo? Quem disse que não fazem parte da trama que envolve a todo o Universo e suas partes? Quem disse que a escolha que fizeram não era exatamente a que deveria ter sido feita?

Tudo flui conforme a Dança da Deusa, as estações se alternam, as fases da Lua se sucedem, cada coisa ocorre a seu tempo e onde deve ocorrer. Negar isto seria abraçar o caos, seria postular que há fatos desvinculados do princípio de causa e efeito, e nem mesmo os mais céticos cientistas ousariam tanto.

Pois bem, no momento em que um nome é escolhido, todo o universo pulsa na freqüência daquele nome, naquele lugar e naquelas condições. Dois nomes diferentes podem ser escolhidos no mesmo lugar e ao mesmo tempo, mas cada família é uma família diferente. Dois nomes diferentes podem ser escolhidos praticamente ao mesmo tempo por uma mesma família para nomear gêmeos, mas cada filho ainda não nascido já suscitará em seus pais os sentimentos que trarão ao mundo, e segundo eles serão nomeados.

Então alguém que porta um nome já tem, pré-definido, como será? Onde entra o livre-arbítrio?

O nome que recebemos ao nascer representa (não determina) quais serão os desafios que devem ser enfrentados naquela vida, mas como os desafios serão enfrentados depende da pessoa. A análise numerológica é um mapa, e o livre-arbítrio é a rota que se traça sobre este mapa. Pode-se escolher um caminho seguro, porém tortuoso; uma rota curta, porém perigosa ou extenuante; um meio termo entre dificuldade e agilidade; pode-se escolher mesmo um caminho em círculos, que leve a pessoa ao ponto de partida por anos e anos e anos ou mesmo por toda sua vida. Pode-se fazer de conta que o mapa da vida é outro, e traçar a rota sobre um ambiente completamente diferente do que nossa vida será de fato. Aliás, esta última parece ser a opção da maioria, o que custa muitos e muitos anos de ilusão até que se decida repensar os objetivos e estabelecer novas metas, dando uma guinada na vida. Tudo isto por culpa de um nome?

Não. O nome não é uma lei, é uma das muitas conseqüências, não uma causa. O nome mostra o que é, não determina o que é. Por isso, mudar o nome não resolve problemas, não exclui desafios da vida de ninguém, mas a adoção de novos nomes é muito útil para quem sabe usar tal recurso quando já tem um vislumbre de qual sua missão.

Muitas vezes sofremos. Se porque não compreendemos ou porque não aceitamos nossos desafios ou ainda se porque não sabemos lidar com tais situações que nos são impostas, não faz diferença. Os três motivos estão interligados. Um desafio nos é imposto porque ainda não sabemos lidar com ele, e por não saber lidar com ele não temos como reconhecê-lo como um desafio, passando a percebê-lo apenas como um incômodo sem solução possível. Ao imaginar ser impossível solucionar, muitos buscam apenas se esquivar, fugir da situação, mas ela se repete. Pessoas se separam, se divorciam, e acabam se casando com outras que lhe trazem as mesmas amargas experiências de convívio difícil. Não se entendem com os pais e escolhem cônjuges ou mesmo vão trabalhar com chefes que têm muito em comum com quem foi deixado para trás. Mudar o nome e esperar com isso alterar a missão de sua vida é como considerar que desligando um alarme de incêndio o fogo será extinto.

Cada etapa na vida, cada lição aprendida, habilita a pessoa a enfrentar novos desafios. Mas, convenhamos, não se pode cumprir o destino de uma vida em poucos anos e aguardar a morte pelos anos que restarem, ou, à revelia do destino, escolher um novo norte. Uma missão não termina, portanto, será a mesma desde o nascimento até o desencarne. Mesmo superados muitos dos problemas e vencidas muitas das limitações pré-determinadas, mesmo atingidas plenamente muitas das metas que a pessoa se impôs, a missão deverá continuar norteando sua vida. Mas, como dissemos antes, o como chegar lá é resultado de escolhas, e são exatamente estas escolhas que podem ser reafirmadas com um novo nome, desta vez escolhido não à revelia do nomeado, mas conscientemente por ele, plenamente conforme seus planos.

É usual adotar um nome pagão assim como é usual um religioso adotar um novo nome assim que sobe na hierarquia. Isto é comum tanto à Igreja quanto a religiões orientais. Uma pessoa, ao se tornar padre, adota um novo nome, que representa o que decidiu ser como padre; ao galgar o posto de bispo, novamente altera seu nome; e os poucos que chegaram a papa, como todos sabem, adotaram um novo nome que também inspirou/inspira o que pretende/pretendeu empreender no cargo.

Quanto à natureza dos problemas que serão enfrentados, alterações ulteriores do nome ou a adoção de um novo nome só servem de paliativo. O nome profano, o primeiro nome, é o mapa de nossa vida; os demais nomes são o desenho da rota que escolhemos trilhar.

Seu nome profano é o meio de conhecer seus verdadeiros propósitos; seu nome pagão, em suas mãos, é o estandarte sob o qual seu ânimo tomará a direção mais proveitosa para si mesmo. Mas seu nome profano e seu nome pagão nas mãos de pessoas pouco confiáveis são um risco que não seria prudente correr.